quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Regador azul

Esse foi só mais um dia, em que não suportei permanecer no meu mundo, o qual eu já não reconhecia, e vaguei sem rumo, procurando uma saída. Foi quando avistei, logo à esquina, aquele caminho que todos me diriam para não seguir. Retornei, era mais seguro, ou deveria ser.
Enquanto caminhava, tentei não pensar, não entender, não sentir e então não sofrer.
A noite caiu e no meu mundo adormeci, mas o Sol não se demorou, eu acordei e comigo acordou a dor. Novamente fugi. Caminhei sem destino, só o que eu precisava era de um lugar desconhecido, onde nada me lembrasse aquele fim. Dessa vez me perdi em pensamentos, com a cabeça baixa, sem perceber que direção tomava, passava o meu olhar por todas as pedras que se seguiam na terra, as suas cores e formas, quando vi o fim do caminho, só tinha mais um destino a seguir, logo atrás do bosque se escondia tudo que eu talvez não devesse ver. Mas, já não me recordava do medo, mas sim, me atentava a curiosidade. Eu já estava ali, era só abrir os olhos e avistar.
E foi o que fiz. E era imenso. Tão grande e tão bonito, colorido, hipnotizante. Milhares de flores, e cores. Rosas e cravos. Após o espanto com tamanha beleza, imaginei quem haveria de ter tanto zelo para que tais flores viessem a crescer, em um jardim censurado, proibido de se ver. Foi quando percebi aquele ser abaixado com seu regador azul, aparentemente, vislumbrado com o perfume das rosas brancas. Me aproximei e ele me avistou.
- Senti-se e admire – abriu um sorriso enquanto dizia.
Então me aproximei e sentei ao seu lado, e ele prosseguiu:
- Aos que ousam atravessar as montanhas que os cegam, são recompensados com verdadeiros paraísos. – disse enquanto desviava seu olhar por todo o jardim.
Pensei naquilo e me entristeci.
- O acaso me trouxe, não fui sequer capaz de desejar ultrapassar as montanhas. – abaixei minha cabeça ao perceber isso.
E ele me disse ao segurar de leve as minhas mãos:
- O acaso não existe. – e sorriu.
O seu sorriso me trazia segurança, tal como a solidão que atravessei não me oferecia. Ficamos horas sentados, observando cada flor que se unia perfeitamente às outras e transformava o jardim em um mar de beleza e tranqüilidade.
Descobri que o lugar que eu procurava não se tratava de um jardim, mas sim dos abraços confortantes, das mãos delicadas que me tocou, do olhar apaixonante e das palavras doces daquele ser que me acolheu.
- Fique mais um pouco. É fascinante ver uma rosa desabrochar.
E todo o mistério era tão convidativo que resolvi ficar um pouco mais, e mais, e mais...
Nem sequer tinha para o que retornar. O desconhecido algumas vezes é mais seguro que o que se julga conhecer, ao menos, já é de se esperar que ele venha a te surpreender.

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